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Adaptação à dieta de confinamento

POR Roberta Marchioti, 11 AGO, 2022
11 AGO

A mudança da dieta que ocorre com os animais que saem do pasto e vão para o confinamento exige um protocolo cauteloso de adaptação, pois altera a morfologia e funcionalidade do rúmen. E se houver negligência nesta fase, o animal fica propício a graves transtornos fisiológicos e o confinador, com prejuízos econômicos. Além da dieta temos que considerar o efeito social entre os animais e o stress provocado em etapas como transporte, formação de lotes, dominância, convívio mais próximo e frequente com seres humanos, barulhos, entre outros mais.

            No pasto, com uma dieta rica em fibra (carboidrato não estrutural), o rúmen está repleto de bactérias fibrolíticas, além de protozoários e fungos. Entretanto nos confinamentos a proporção de concentrados (carboidratos não fibrosos) prevalece o crescimento de bactérias amilolíticas. E esta mudança não deve ser abrupta, pois poderiam causar sérios problemas de acidose, laminite e inflamações no rúmen (ruminite), que são decorrentes de dietas ricas em grãos de cereais e com níveis de forragens inadequados.

            Uma opção de adaptação observando apenas a relação de volumoso:concentrado  seria utilizar incrementos na quantidade de concentrados de forma gradual. Iniciando com 80:20 (dieta 1) pelo período de 5-6 dias, 60:40 (dieta 2) por mais 5-6 dias, 40:60 (dieta 3) por mais 5-6 dias e por fim 20:80 (dieta 4) até o final do confinamento.

            Embora cuidados devam ser tomados durante o processo de adaptação para evitar acidose, o estabelecimento do consumo de matéria seca (MS), e portanto, calórico, é fundamental para o período, pois existe forte correlação entre consumo de MS e desempenho produtivo do animal. E logo que o animal chega no confinamento, ele sofre um estresse de adaptação com o novo ambiente. Isto leva o animal a reduzir seu apetite, caindo significativamente o consumo nos primeiros dias. Neste sentido existe uma outra forma de adaptação que é a restrição de consumo e ir aumentando gradativamente, iniciando com 1,3 a 1,5% do peso vivo (PV) e com incrementos diários de 0,25 a 0,45 kg de MS.

            Considerando o ciclo completo do confinamento, os animais com restrição da dieta final apresentam menor ingestão de MS e maior eficiência alimentar do que protocolos de incrementos de concentrados em relação a volumosos. Entretanto é possível fazer ambos mesclados ou mistos e obter as vantagens de saúde e econômicas de cada uma.

            Ainda com relação a adaptação de dietas, é possível fazer com aumento gradual de concentrado, porém com mudança na formulação do concentrado. Na dieta inicial prioriza o fornecimento de proteína, minerais e pequena quantidade de carboidratos não fibrosos. Nas dietas seguintes aumenta-se gradativamente a proporção de concentrado e também o teor de carboidratos não fibrosos da dieta total. O período de fornecimento de cada dieta é variável, dependendo do peso de entrada dos animais no confinamento. Animais mais jovens e leves recebem esta dieta com maior teor proteico por um período maior, com o objetivo de promover o crescimento animal.

            Outra opção de adaptação é com relação ao piquete ou pasto de semiconfinamento, no qual os animais estariam no pasto e com o cocho com a dieta de adaptação para o confinamento, para que os animais sintam de maneira menos abrupta, a transição social e do ambiente. Neste sentido, animais que vem do pasto habituado com o cocho e oferta de proteinado energético de alto consumo, se adaptam mais facilmente aos confinamentos.

            Contudo do que foi relatado, a adaptação requer um bom manejo e cuidados em todas as etapas. Entretanto, ficar atento nos primeiros 20 a 30 dias é fundamental para obter o melhor desempenho dos animais e sucesso no confinamento.